Soneto da Separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

[...]

- Eu nunca quis tanto você como quero agora. Não há um dia sequer que não te desejo, que te toco, mordo, mastigo e cuspo dos meus sonhos todos pro futuro. Eu precisei ver você se perder de mim pra que eu pudesse te procurar, e te achar, e te perder.Eu quero esse teu amor de menininha, puro e quase infantil, que é como o amor deve ser.Eu quero esse teu calor de moça , esse calor que lambe as pernas, que consome tudo por dentro.Eu me arrependo de te der dado pouco, quando me destes tudo o que tinha...Tuas roupas, teu futuro, tua sanidade...Ah...milênios seriam migalhas de tempo pra minha vontade de te fazer o mais feliz de todos os seres.
- O que quer então que eu faça ? Que te dê o tanto amar que negou às pressas? O que quer de mim?
- Exista.Quero que apenas exista.

Saudade

Tenho com saudade de 'casa'
da praia, do pôr-do-sol
de pôr no ser alguma coisa de mar
amar...talvez.
Tenho vontade de tudo, do seu,
vontade revés de ter vontade, coisa inacadada
que de esperar só adia,
e não adianta nada.

Metamorfosear

‘Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre.’ , afirmou Fernando Pessoa. A mudança nasce da morte do velho que faz-se novo e este novo tornar-se-á velho.A mudança é coisa permanente e vive assim, em ciclos.
Um dia após o outro, diferentes todos, é a possibilidade por si só de mudarmo-nos.Ou poderíamos dizer que são a própria mudança, um tanto ‘parcelada’, dividida em pequeníssimos pedaços cotidianos. O mundo muda todo o tempo porque todos nós mudamos todo o tempo a nós, a nossa volta e aos outros, tacitamente ou propositalmente. A mudança também depende do querer modificar, metamorfosear.
Porém, mais fácil é perceber a mudança brusca, o fato que nasce e morre diante dos olhos, a transitoriedade em curto espaço de tempo, a noite em dia, o dia em noite, as coisas que se movem... A mudança só surge daquilo que morre,e há no mundo tempos e tempos de ‘morrer’. O próprio tempo é algo que nasce e morre todo o tempo.
Há o tempo de matar as horas, ocupando-as. Então a mudança é cronológica e , por tanto , ‘controlável’. Há o tempo de esperar, que é nada senão adiar a mudança. E há o tempo de matar sentimentos, criando outros em seu lugar. Essa mudança é atemporal, pois sentimentos mudam todo o tempo, em nós e de em si mesmos.
Então, chegamos ao âmago do que é estar vivo. Viver é ser passageiro de si mesmo , das coisas, do tempo. A vida vive pedindo pra que a gente mude.As pessoas pedem pra que a gente mude.Nós mesmos nos fazemos outros. A mudança é um imperativo necessário e só através dela a vida acontece.
Pois , quem não muda vive sempre à margem de si mesmo, daquilo que poderia ser, poderia sentir , poderia existir. Aprisiona-se dentro de si, põe cabrestos na alma e sufoca a capacidade de fazer-se qualquer um, fazer-se algo, fazer-se outro. Mudar é conhecer o ilimitável poder de criação do homem.

Juliana Poêys

( Putz...pior que esse tema pra redação, só escrever sobre Loucura :o)