Último Romance

Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena


Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
Afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

Los Hermanos

Poemas de Dezembro

Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.

Drummond (Dezembro de 1985)

[...]

'Clara a abraçou forte.Era exatamente isso que ela sentia, medo.Podia ver o monstro e sua nova e aterrorisante cabeça.Talvez o medo seja indispensável agora, talvez eu precise mesmo dele.O medo é de longe negro e frio. É multiculorido. Está entre frestas,submerso, escondido e velado. Fica adormecido aqui dentro e por vezes acorda, tomando-nos inteiros com seu despertar quase sempre algoz e silencioso. Assim mesmo, o medo impulsiona. Nos inspira a resposta rápida, ao movimento ágil ou , contrariamente, a total paralisação dos sentidos.Só dos sentidos.Os sentimentos não.Estes se misturam, formam amendrotadoras novas formas e cada hora parece fazer-se em nós as coisas mais impossíveis de se fazer.O medo é o espaço de tempo onde tudo parece não fazer sentido algum e assim mesmo ter o sentido exato.O de estar vivo.'

Esperas...

Não digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente o perfume da paixão antiga,
Dos nossos bons e cândidos abraços!

Sou a dona dos místicos cansaços,
A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços…
Não vás ainda embora, ó sombra amiga!

Teu amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta canção de ondinas lá no fundo!

Espera… espera… ó minha sombra amada…
Vê que p’ra além de mim já não há nada
E nunca mais me encontras neste mundo!…


Florbela Espanca



'O nosso amor a gente inventa, pra se distrair...'